domingo, 10 de novembro de 2013

AS ESTRANHAS VISÕES DO LUÍS

Luís, um velho conhecido sofre de um sintoma muito esquisito.
Em algumas situações: quando assiste os noticiários de televisão ou comentários sobre economias e política, ele vê no rosto do apresentador ou do comentarista transformações horripilantes, assustadoras; caretas; monstruosas mesmas.

O fato se repete com alguns interlocutores durante conversas pessoais.
Certo dia, numa conversa o interlocutor, um professor, citou como exemplo de vida um destes tumultuados jogador de futebol. De imediato lá no rosto do professor, o Luís viu a carranca.
Só ele as vê.

Passado os primeiros instantes as expressões desaparecem e tudo volta ao normal.
Estas manifestações, lembra o Luís, no início eram esporádica.
Espaçadas. Longos espaços de tempo se passavam entre uma e a outra.
Logo após perceber a transformação na face da pessoa e, quase imediatamente, a desfiguração desaparecia, com o semblante da pessoa voltando ao natural.
Em 1988, o mal deu sinais de agravamento.
Quando assistia pela televisão o deputado Ulisses Guimarães anunciando a nova constituição, pumba..! Lá veio a crise.

Nesta oportunidade, diferentes das outras, o sintoma permaneceu durante o todo o tempo em que a imagem do deputado permaneceu no ar.
E só o Luís viu a desfiguração no rosto do deputado.
Foi o primeiro caso de tempo integral.

Eventos da mesma magnitude retornaram em 2002, em 2005 (coincidentemente o ano que estourou o escândalo do mensalão) e em 2010.
Depois, destas datas tudo voltou ao normal. Ou seja, as terríveis aparências voltaram ao ciclo anterior: aparecer e rapidamente desaparecer.

Até que o Luís já tinha se habituado com a esquisitice.
Dias destes, na fila para o caixa do banco, enquanto aguardava a sua vez, o Luís notou a mutação no rosto de um idoso, que conversava animadamente com o caixa do banco.
Sem saber o motivo para a crise, ele não percebeu na sua fila, logo a frente um jovem simulando paciência, aguardava a sua vez.

O jovem que trabalha num escritório próximo tinha apenas a hora do almoço para ir ao banco e depois almoçar.
Enquanto isto, o velho conversador, tomava a vez e o tempo, deste jovem e dos demais, tagarelando alegremente com o caixa, as aventuras que teria no baile da terceira idade; que iria após sacar o dinheiro.

O fato é que o Luís tem lutado arduamente contra o fenômeno, buscando tratamentos psiquiátricos, na tentativa de descobrir a causa da sua síndrome.
Ele não percebeu as coincidências e as circunstâncias que o mal o acomete.

Não lembra ter sido acometido do mesmo distúrbio ao ouvir a noticia da criação da lei preferencial para os idosos. Tira-se a educação do berço familiar para impor as leis do Estado.

Não lembra: sempre tem a crise, ao ouvir nos noticiários as notas ofensivas aos professores, estes agredidos por alunos.

Não lembra: as constantes crises, quando as Mirian’s das televisões transmitem notícias: A inflação está sobre controle. Diz ela; dizem eles.

Não se lembra das crises em algumas missas quando uns e outros padres as transformam em qualquer coisa mundana, menos no sacramento da missa.

Da crise quando o Cesari Batistti foi mantido no Brasil; e de quando devolveram os esportistas cubanos que pediram asilo.

Quando...

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