A PERCEPÇÃO DA VERGONHA
Dia destes, estava na fila do
caixa de um mercado observando as revistas expostas nas gôndolas que margeiam a
fila.
Fácil notar, pelos títulos, os temas que dominavam as capas, então,
também os teores internos das mesmas:
- fulana descobriu que fulano a traía com
beltrana e com gisgimundo;
- sicrano vai fugir com raremunda, esposa
do gisgimundo;
- Suzimunda é covardemente descriminada:
porque quer abortar a consequência indesejada da aventura amorosa.
E adiante...
Sobre novelas.
Ciências, reportagens isentas e
sérias?
Num instante, o primeiro pensamento
de contrariedade: o desperdício de celulose.
No segundo: o pensamento de revolta que sentiria Gutenberg se visse à que serve a sua tipograifa
No segundo: o pensamento de revolta que sentiria Gutenberg se visse à que serve a sua tipograifa
Só então, o terceiro pensamento.
A autocensura, contrariado que fiquei, por não perceber em primeira instância,
o mal maior.
O único e verdadeiro prejuízo; este
irreparável.
O círculo negativista e vicioso a que estas revistas, também, e
principalmente as novelas e programas das televisões, pertencem. Auto-alimentados
que são com a sanha destruidora das mentes.
Formadores de zumbis intelectuais.
Não mais, apenas dos jovens.
Adultos e idosos inclusive.
Já ouvi, em rodas de conversas
sociais, onde imaginei que teria muito a aprender, pois faziam parte, pessoas que
se consideram da elite culta, dialogando exatamente sobre as novelas:
-
“São retratos da sociedade”. Todos concordavam.
Menos o pária: Eu!
Não! As cenas de novelas, não são
retratos da sociedade, mas são sim os protótipos a serem copiados e os modelos
a serem imitados.
As novelas estão na vanguarda, são baluartes, os moldadores de costumes.
Elas criam, usando as poucas, se não totalmente nulas, capacidade crítica das
pessoas.
Representam novas moralidades e novas éticas?
Não! Também, não.
Não são formadoras de novas normas morais e nem de
éticas.
O que promovem é a destruição das estruturas
existentes! Bem como o fazem os noticiosos, a maioria dos programas de
costumes, os programas policiais, grande parte dos programas de entrevistas,...
Enfim as mensagens embutidas no retângulo do vídeo: as cenas das novelas
e os diálogos são os moldes comportamentais à serem reverberados pelos néscios,
que se imaginam a elite cultural.
Depois, vividos pela imensidão de
tolos.
E, eles seguem adiante, nas pavorosas profundezas das suas analises conjunturais.
Discutem a imensidão existencial na
declaração de tal personagem pública a respeito da sua devassada vida privada.
Acham-se bem informados sobre a política econômica.
Acreditaram piamente no que as Mirian’s disseram nos jornais:
-
A inflação está sobre controle”.
Ora bolas!
Mas se existe febre, que saúde há?!
Se há inflação, que controle têm?!
Quanto a mim?
Vergonhosamente, tenho de reconhecer, não estou tão afastado dos estultos.
E me penalizo.
Lá na fila do mercado, só num
terceiro momento que fui perceber as verdadeiras desgraças que aquelas revistas
propagam.
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